O mundo segue
E ainda que não cegue
Ainda que não chegue
A sege do destino
Vou caminhando em direção ao escuro
Visito em meus sonhos
Faces desconhecidas
Beijo rostos e bocas
Canto e danço sozinho
Caminho por avenidas e ruas
Buracos dessa minha cidade
E aí
E aí
Não vejo a hora em que acordo
Que é que querem de mim?
Os deuses, os espíritos
As árvores e os animais
As pessoas e as máquinas
Que é que querem de mim?
Eu ontem fiz vinte e cinco anos
Sim, ontem num dia distante
Ontem na hora do rush
No momento em que a madame
atravessava a faixa de pedestre
E o homem da motocicleta olhava as
suas nádegas
Fiz vinte e cinco anos
Ontem
Aí eu não sei o que querem de mim
E se pergunto, também não sabem
Desconversam, olha um passarinho
Aquela casa um dia cai
Aquela menina que passa, que pernas
hein
E não me contam as coisas
E não me falam de mim
Que querem de mim todas as vidas?
Todas as formas de se acabar com a
vida?
Que querem de mim?
Eu ontem fiz vinte e cinco anos
E nem sei para que lado vou
Atravesso a ponte com medo de cair lá
embaixo
Eu marco um encontro com medo de
emboscada
E quem me haveria de emboscar?
Em duas páginas de poesia, só tenho
dito absurdos
Mas o mundo é absurdo, baby
Quanto mais absurdo serei eu
Que nem do mundo faço parte
Agora tenho medo das coisas
Tenho medo do mundo e das coisas
Das pessoas
Da água
Da poliomielite
Não tenho medo da morte
Mas seria uma pena morrer
Eu ontem fiz vinte e cinco anos
E ainda não fiz uma mulher sofrer
Janeiro de 2014