Uma cigarra, dessas
cantadeiras que chega a doer-nos o ouvido de tanto escutar o seu canto, vivia
pela floresta soltando o gogó como se fosse Agnaldo Rayol. Enquanto isso, dona
formiga, operária em construção, vivia sempre derramando o suor do seu rosto,
se é que formiga tenha suor e rosto, mas, se tiver, o dessa aí está sempre todo
suado, certeza.
As duas se encontraram num
dia em que a formiga ia carregando uma folha pra logo ali, ó, virando a
esquina. A cigarra ia pr’um happy hour
em Copacabana e achou interessantíssima essa vida que levava a formiga (duplo
sentido). Ressaltou, entretanto:
- Mas eu, queridinha,
prefiro mesmo é cantar meus roques. Até admiro, mas esse negócio de trabalhar
não é comigo não.
Como vocês já devem
estar esperando, veio o inverno – até Copacabana esfriou – e a formiga recolheu-se
em seu apê no condomínio Paraíso, enquanto a cigarra, sem nem um miojo pra
comer, perambulava pela rua, até que engoliu o orgulho e tocou a companhia da
comadre (como vocês sabem, os bichos eram todos compadres e comadres) para
pedir arrego.
- Mas moça cigarra! –
disse a formiga surpresa – Parece que adivinha! Eu ia mesmo te ligar! Estamos aqui precisando de um acustic MTV pra nossa festa invernal
(muito cuidado ao ler essa palavra).
Enfim, vocês já devem
adivinhar o fim dessa história, vocês sabem como são essas coisas. A formiga,
depois que a Primavera voltou, virou empresária da Cigarra e nunca mais
precisou juntar comida para o inverno. Manda vir tudo pelo delivery.
Moral: conversando a
gente se entende.
Fernando Lago - Agosto de 2012
adoro essas modernices nos contos de fadas! rs
ResponderExcluirbeijoo