26 de mai. de 2009

Vilas Boas

- Vilas Boas? Ladrão, patife, sem-vergonha, desagregador de lares! Um salafrário!

- Quem eu?

- Não, esse Vilas Boas, prefeito de Porto Bonito.

- Mas eu sou Antonio Vilas Boas, prefeito de Santa Maria do Porto Bonito!

- É, é?

- É, sou!

- Mas... mas eu estou falando de Caio Vilas Boas, prefeito de São José de Porto Bonito.

- Como é que é?

- É, é... Existe essa cidade. No Paraná. No norte.

- Eu sei que existe, seu miserável! Caio Vilas Boas é meu irmão! E é prefeito de São José do Porto Bonito, no norte do Paraná!

- E é, é? Êta, Brasil! Mas to falando de Porto Bonito-Paranaguá, perto da Misericórdia do Sul, lá em Minas. O nome do cara, na verdade, é Antônio Vilas Boas da Silva e ele é deputado.

- O deputado Antônio Vilas Boas da Silva é meu tio.

- Ahn? E Natanael?

- Meu primo.

- Claudemiro?

- Meu primo de segundo grau.

- José, Aparecido, Miguelino...

- Meu tio, meu irmão mais velho e meu pai.

- Rapaz! Mas que família, hein!

- Pois é... Fazer o quê?

- Pra que essa arma?

- Um costume da família... A minha gente não gosta de gente que fala demais... Principalmente se for Jornalista. Principalmente se for de Santa Cruz.
Principalmente se se chamar Pedro Paraná.

- Meu nome de batismo é Pedro Rodrigues e eu nasci em Porto Seguro.

- Vai começar aquela enrola de novo?

- É essa a idéia...


Fernando Lago Santos. 19 de Dezembro de 2006.

23 de mai. de 2009

100 Ofensas 100 Vergonha – Versão 2009

Pois é, minha gente. A estagnação passou. Depois de algum tempo calado, o 100 ofensas 100 vergonha volta com tudo em 2009, com o mesmo sarcasmo e ironia de sempre. Enjoy! 

20 de Maio de 2009

  • Diz que o Obhama teve um árduo treinamento pra lidar com a crise, antes de assumir o governo “dos USA”. Passava horas jogando banco imobiliário com a Michelle.
  • Obhama diz que Lula é o cara, e vocês conhecem aquela história sobre o cara...
  • E o Bush, onde anda? Nunca mais me ligou, aquele sacana!
  • Quanto à crise, ela é crítica.
  • A crise chegou lá em casa e ainda trouxe minha sogra junto com ela!
  • A crise chegou lá em casa e já quer se instalar. A safada vai ter que dormir na sala, porque meu quarto eu não dou!
  • Já vi que a solução é a fusão. Já mandei um e-mail pra Sadia e pra Perdigão pra ver se querem se juntar ao meu negócio. Tenho uma criação de galinha pé-duro no meu quintal...
  • Com a fusão entre Sadia e Perdigão, eles vão fazer o cruzamento do peru com o chester. Vamos ver que nova espécie essa fusão vai originar.
  • Quando eu falei que a Sadia e a Perdigão eram boas em engordar o pinto, meu avô arregalou logo o olho...
  • Cantada a La crise: e aí, gatinha? Tá a fim de uma fusão? Você é minha Sadia e eu sou seu perdigão?
  • E o Paraguai que agora anexou algumas terras... Fiquei sabendo num livro didático da rede pública de São Paulo.
  • Depois daquela história com os livros didáticos, a secretaria de Educação do estado de São Paulo mandou cancelar o pedido que tinham feito de filmes do Frota pra aulas de Educação sexual.
  • Agora com essa tal dessa lei das passagens eu vou parar de encher o saco do meu tio pra sair candidato a deputado no ano que vem. Eu só queria ir pra Paris.
  • Com tanta gente entrando e saindo da Amazônia, duvido muito que ainda haja floresta virgem.
  • A esperança é a última que morre, se tiver plano de saúde.

20 de mai. de 2009

O Gênio (Série Piadas Incrementadas)

Ele caminhava por uma praia, a que chamavam deserta, embora nada tivesse de deserta. Só se for deserta de areia, pensou, porque gente era o que não faltava ali. Foi caminhando, caminhando, caminhando, até encontrar, enfim, um lugar efetivamente deserto, isolado de toda aquela multidão, onde só se podia ouvir o barulho do mar.

Estava de férias. O que queria mesmo era ir para Paris, mas seu pavor de avião não lhe permitia a realização de tal desejo. Ah, La belle Paris! De repente, seu pensamento foi cortado por um tropeção que deu num montinho estufado na areia.

 - Quê que é isso? – disse enfiando a mão e tirando de lá uma espécie de bule esquisito como ele nunca tinha visto.

 - Que troço é esse? – disse limpando pra tirar o excesso de terra.

Subitamente uma fumaça verde começou a tomar todo o lugar, saindo de um buraco do objeto, tomando as dimensões de um corpo humano e clareando, até tornar-se efetivamente algo parecido com um ser humano.

 - Opa! Quem é...? Ah! Já sei! Você é um gênio! Cara! Que legal! Quer dizer que eu tenho direito a três pedidos?

 - Êpa! Devagar com o andor, meu amigo! Não é bem assim que o negócio funciona! Em primeiro lugar, eu não sou um gênio; eu sou O Gênio! Entendeu?

 - Anham!

 - Captou?

 - Sim, entendi!

 - E em segundo lugar, de onde é que você tirou essa idéia de três pedidos?

 - Ah, já entendi! Lá vem você! Vai dizer que os tempos mudaram, não sei o quê, bla bla bla e concluir que só tenho direito a um desejo. Ta legal!

 - Deixa eu te explicar uma coisa! Quando eu comecei nesse negócio eu dava sete desejos, porque era o número da perfeição, etc e tal. Mas as coisas mudam, naquela época não existia inflação. Depois de toda essa baderna, crise de 29, Guerra Fria, essas coisas, eu fui só baixando e hoje você tem direito a dois desejos apenas! E vê se pede logo que eu sou um gênio muito ocupado!

 - Tá bom, ta bom, compreendi! Dois desejos está ótimo! Xô pensar...

 - Calma aí, só um pouquinho que o meu celular está vibrando!

O Gênio começa a falar no telefone:

 - Alô! Ô, Pereira! Quanto tempo! Como vai essa força! Fiquei sabendo que ce ta de lâmpada nova, sacana! E aí, ta batendo cartão aonde? New York? Ah, ta na Bolsa agora? Massa! Hein?? Ah, brigadão, Pereira! Vixi quase que eu faço uma besteira! Se você não me liga!

O Gênio vira-se para o cara de cueca:

 - Infelizmente, cuecudo, vamos ter que fazer algumas mudanças no nosso trato.

 - Como assim? Lá vem...

 - É que o meu colega Pereira, ta lá em Nova Iorque e me ligou avisando que o Dólar caiu de novo.

 - De novo! E daí?

 - Daí que com essa queda, você só tem direito a um desejo!

 - Ah, que merda!

 - Pois é, pense bem...

 - Não preciso nem pensar. Já tenho um desejo!

 - Então faz!

O cuecudo arreganhou os dentes:

 - Lá vai: Eu quero que você seja meu escravo para sempre, e de hoje em diante conceda todos os desejos que eu quiser.

Imediatamente uma luz insuportavelmente vermelha começou a piscar na barriga do gênio e ele, com cara de bravo, avançou para o cliente, como se tivesse intenção de esganá-lo.

 - Escuta aqui, espertinho! Você sabe o que é constituição???

 - Sei, eu sou deputado!

 - Ah, é deputado! Isso explica muita coisa! Pois preste atenção, deputado, eu também tenho minha constituição – enfiou a mão num minúsculo bolso na sua peculiar vestimenta e de lá tirou um enorme livro de capa dura, parecido com uma barsa – e nela diz, no artigo 43, inciso V, parágrafo 2º que “nenhum gênio jamais pode servir a um só cliente e a ele não é permitido ceder nenhum desejo a mais do que permite a cota do dólar!!!

 - Tá tá tá tá bom! Eu já entendi! Então é só um mesmo e acabou!

 - É!

 - Tá bom, eu já sei o que eu quero. Eu quero uma ponte rodoviária daqui até Paris!

 - Coméqueé??

 - É, uma ponte daqui até Paris!

 - Você ficou doido!? Quer que eu construa uma ponte daqui até Paris! Não dá pra fazer uma ponte daqui até Paris! Pra quê que você quer uma ponte daqui até Paris?

 - Pra eu ir dirigindo até lá.

 - Mais essa agora! É cada doido! Porque você não vai de avião, de barco?

 - Tenho medo de avião e enjôo com o mar.

 - Ah não! Pode ir pedindo outra coisa! Isso é muito difícil! São milhões de quilômetros de concreto! Sem falar em toda a logística que eu vou ter que mover pra fazer isso. Os impostos, então nem se fala! Ah, não dá não...

 - Mas que espécie de Gênio é você?

 - Da espécie racional!

 - Tá bom, ta bom, então deixa pensar um pouco... Tá bom, já sei! Eu quero que você faça de mim o homem mais bonito do mundo!!!

O Gênio deu um suspiro e falou:

 - Está bem, vou arrumar os papéis...

 - Papéis? De quê, do cirurgião plástico?

 - Não, dos impostos. Em dois meses sua ponte está pronta.

 

Fernando Lago Santos – 21 de Dezembro de 2006. em Piadas Incrementadas.


18 de mai. de 2009

A redenção de Saramago

Nunca li sequer um livro de José Saramago. É fato. Sei um bocado de coisa sobre ele. Que é patrício de Cabral, que é prêmio Nobel (“sou prêmio Nobel, e daí!”), que é um grande escritor, que é autor do Memorial do Convento e que não é novidade ver sua cara nos livros de Língua Portuguesa. Mas nunca li nenhum livro de Saramago. E não li por um motivo muito simples e que provavelmente é compartilhado por muitos outros brasileiros de vinte anos de idade: Preguiça.

Não só ela, mas principalmente ela. E isso não é privilégio de Saramago meu caro; não é nem privilégio de escritores portugueses. Aliás, gosto de Saramago; gosto dos portugueses. Mesmo sem conhecer o trabalho do lusitano virei admirador quando assisti uma entrevista dele num telejornal global, na época que eu assistia muito telejornal. A sutileza com que ele respondia às perguntas do repórter me fez achá-lo um homem realmente respeitável. Sem falar que os portugueses têm aquela ótima mania de falar correto, e de usar algumas expressões que, apesar de estarem contidas no vocabulário tupiniquim, você dificilmente vai ver um brasileiro usando. Mas tudo isso são admirações particulares que tenho pela terrinha. Meu senso literário é mais cruel.

Mas quando digo que não é privilégio de literatos portugueses é porque muitos brasileiros deram de cara com a minha preguiça antes de serem lidos. O principal deles foi Jorge Amado. Coitado! Ficava lá, na estante da biblioteca pedindo, implorando pra ser lido e eu dava uma olhada, analisava o volume, às vezes chegava até a ler a orelha, mas não passava disso. Quando lia algum livro de Língua Portuguesa e Literatura do ensino médio lia todos os trechos de obras, menos os de Jorge Amado e menos os de Saramago, lógico. Era uma birra tremenda, não conseguia ler nada do Jorge. Acontecia até de eu começar a ler alguma coisa sem saber de quem era a autoria e, não conseguindo chegar até o final, pensava: “Que texto, meu Deus! Vamos ver de quem é...” Aí quando via o nome de “AMADO, Jorge” no final suspirava: “Só podia ser”.

Quem me redimiu com o escritor ilheense foi uma professora, já no terceiro ano do ensino médio, da maneira mais humana possível: ela me obrigou a ler Gabriela, Cravo e Canela pra fazer um trabalho que valia a nota do último bimestre. Não deu outra, me apaixonei pela obra e, por livre e espontânea vontade, li outros dois livros de Jorge Amado. Ainda tem um bocado que devo ler, mas por enquanto tenho me dedicado muito à academia (sério!) e tenho lido muita literatura internacional. Deixa Amado pra daqui a alguns anos.

Quanto a Saramago, não chegou a ser uma birra irracional. A minha implicância com ele tinha um bom motivo além da preguiça. Acontece que eu sou um jovem antiquado, mais antiquado que Saramago provavelmente. Todos os trechos de livros que tentei ler de Saramago era aquela coisa bagunçada pra olhos literariamente conservadores como os meus. Sem travessão, sem pontuações de emoção, uma coisa quase inaceitável. No entanto, o homem é prêmio Nobel! Logo, eu mesmo considero a minha implicância como fruto de puro preconceito estético.

Mas nesta semana Saramago foi redimido.

Visitando o blog de um antigo professor aqui do campus X, o Prof. Msc. Moisés Augusto, famoso Professor Catatau, encontrei um link para o site da Fundação Saramago, o que me levou, depois de tantas idas e voltas, a visitar o blog O caderno de Saramago, onde encontrei um Saramago diferente do que eu imaginava. Gostei muito dos textos e adicionei o endereço do blog aos meus favoritos. A linguagem do portuga é de primeira e começo a admirá-lo muito mais do que antes. Essa admiração é muito saudável, porque se o admirasse antes seria simplesmente por ele ser prêmio Nobel. Como já sabia da história do prêmio antes e ainda assim mantive a marra, significa que agora o admiro com profunda sinceridade literária.

Quem diria! Depois de tantos anos de livros, um blogue (eles escrevem assim em Portugal) vem me redimir com um grande figurão da Literatura!

Estou me preparando para ler algum livro de Saramago. Obviamente preciso preparar o meu espírito, desfazer-me da minha concepção antiga sobre o que é estético e o que é torto numa produção textual. Só assim poderei ignorar a ausência de travessões, pontos e outras coisas no texto de Saramago, e então poderei dar atenção apenas à sua linguagem. Afinal de contas, pra ser prêmio Nobel de Literatura o cara deve ter de escrever alguma coisa de bom, não é mesmo?

Fernando Lago Santos – 18 de Maio de 2008


14 de mai. de 2009

Pensamento Intitulável

Devem-se estar todos rindo agora. E com razão. Não precisam esconder com a mão os teus dentes, meus caros! Se vão rir, riam com sinceridade, riam com franqueza. Riam honestamente, porque eu honestamente reconheço que mereço o riso de vocês. Riam de mim, ó bocas perfeitas com dentes sem defeito! Estiquem-se de hilaridade, ó peles suaves as quais nunca toquei. E tu, bela princesa, reúna-te com teu príncipe para juntos festejarem em grandes gargalhadas o quão ridículo é este homem... 

Eu, que desde pequeno tive aversão ao que é ridículo e sem graça; eu, que desde então odeio as coisas ridículas; eu, que sempre busquei andar em direção ao direito e elegante, percebo que nada tenho sido nessa vida além de RIDÍCULO. Achava que estava feliz e pulava ao som de músicas badaladas, imaginando que pensavam em mim e mal sabia que o destino me reservava uma punhalada. É triste, é cômico, é trágico, é tragicômico. Você construir todo um castelo em volta de um fato e de repente perceber que tudo era ilusão, que nesta história toda você era o único que levava a sério a construção desse castelo. Ora qual! Isso não é triste, não é cômico, não é trágico, não é tragicômico; isso é ridículo! E é por isso que mereço sim, todas as risadas que me lançam agora. 

Apontem pra mim o seu dedo indicador! Gargalhem-se pondo a mão na barriga! Profiram palavras que exaltam o meu eu ridículo! Não fiquem tímidos, porque nessa vida só eu chego ao ridículo de ser tímido. Riam francamente e não se importem se eu não rir com vocês. 

Mas mesmo eu acho engraçado. Achava que era um arauto, que a princesa se deslumbrava com meus versos de pé quebrado. E de repente percebo que não passava de um bobo da corte e que provavelmente era um bom divertimento para que passasse o seu tempo. Insisto, RIDÍCULO! 

Cansei de ser romântico. Disse há alguns meses atrás que não mais negaria quem era: um ser essencialmente romântico, essencialmente filosófico, essencialmente musical. Mas já não quero mais isso. Negarei até a morte que sou romântico, porque não irei mais sê-lo. Não vale a pena. Basta-me ser filosófico e musical e, quando muito, científico. Não mais sairei por estas estradas, montado em meu cavalo, com a espada ou a pena em punho a buscar o meu verdadeiro amor terreno. Simplesmente porque não há verdadeiro amor terreno para mim. Esgotaram-se as minhas forças, as tentativas terminaram e amanhã amanhecerei um filósofo. Platão ou Aristóteles, Hegel ou Marx. Não, melhor amanhecer Jorge Camin, que ninguém conhece e que não conhece amor. Estou fechando o meu coração para reforma por tempo indeterminado. É favor não forçar a porta.

Um Amigo meu