Paixão Proibida - Título Provisório (2006)
Nani Alves estacionou o carro um pouco além da enorme pedra rosa, uma das poucas atrações turisticas, que dava nome à cidade. Rita Boa Paz não entendia nada. Por que estaria a cunhada levando ela para aquele lugar tão escuso, tão ermo, e àquela hora da noite, quando só os velhos cachceiros e os ternos namorados estavam acordados? A tudo Nani repetia com um simples:
- O meu irmão precisa conversar com você.
- Mas por que assim? Por que aqui? Por que a essa hora?
Nani completava:
- É preciso
E a tudo que Ritinha questionava ela repetia essa frase: "É preciso."
Não teve coragem, porém, de revelar à cunhada o verdadeiro motivo de estarem ali. Pediu-lhe paciência e confiança. Confiasse nela; confiasse no noivo. Rita confiava em Nani. Mais ainda em seu noivo. Por isso tranquilizou-se e aguardou sentada no banquinho frente à pedra rosa, onde, havia poucos anos, conversara pela primeira vez com Carlos Alves.
- Parece que foi ontem...
- Como? - perguntou Nani alheia ao pensamento da cunhada.
- Estava lembrando daquela aula de campo... Parece-me que foi você mesmo que a promoveu.
- Qual? Já foram tantas... Mas aquela foi especial...
- Ah! - fez Nani com ar sorridente. Era a primeira vez que Rita a via sorrir desde que tinham saído sua casa - Já sei de que você está falando... Aquele passeio em que você conheceu meu irmão...
- Poe falar nisso, onde está ele, Nani? - fez Rita recuperando a impaciência
- Já vem...
- Começo a achar que tem algo errado...
Nani não disse nada. E foi justamente nesse não dizer nada que ela disse tudo a Rita. Sim, havia algo errado.
De repente Carlos Alves surge dos arbustos, com cara de apressado, mal retribui ao cumprimento da noiva. Se dirige rapidamente à irmã, com quem só pudesse confiar em uma pessoa além de si mesmo.
- Viu direito se alguém não seguiu vocês?
- Sim, Carlos, está tudo bem...
- Amor - disse Rita suplicante
Carlos olhava pros lados, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer para a noiva. Seu casamento seria em poucas semanas. Como dizer a ela que nada aconteceria como o planejado?
- Que está acontecendo? - insistiu Rita. E, reparando na bolsa que o noivo trazia ao lado - Parece que você está fugindo...
Outra vez o silêncio falou por si. Rita tinha o dom de escutar palavras não faladas, de ver coisas invisíveis. Mas tinha medo de interpretá-las corretamente. Por isso inventava fantasias quando podia. Mas agora ela se via frente a um fato impossível de fantasiar...
- A política partidária da nossa cidade é uma farsa, meu bem.
- Como assim? Por que está falando isso?
- Rita, você é filha do prefeito. Nunca vai enxergar a realidade por outra visão. Mas a verddade é que o mundo em política é sujo...
- Por que está falando isso, Carlinhos? Meu amor, você é político... Vai sair candidato pelo PDR ano que vem...
- Ia...
- Não vai mais? Ontem mesmo você não fazia planos pra sua carreira política? Que houve pra te fazer mudar de idéia em menos de vinte e quatro horas?
Carlos calou-se, mas Nani já estava cansada dessa conversa inocente. Rita parecia a mesma bonequinha da época da escola. Uma dondocazinha filha de prefeito. Inteligente, Nani reconhecia o potencial de um bom aluno. Mas uma coisinha sensível demais, que merecia uma conversa dura de vez em quando. Restaurou em si toda a autoridade pedagógica que tinha por dom, olhou nos olhos de Rita Boa Paz e, sem nehuma dureza, sem nenhum carinho, sem nenhum sentimento de cunhada disse:
- Carlos descobriu quem matou Custódio Fernandes.
- Quem foi amor?
- Foi o seu pai - arrematou Nani.
Rita não pôde se conter. Ficou vermelha e duas lágrimas rebentaram-se-lhe dos olhos.
- O PDR é uma quadrilha Rita - continuou Nani Alves - seu pai é simplismente o chefe... Eles matam sem escrupulos, sequestram roubam...
- Calma, Nani
- Mas ela tem que saber a verdade sobre o nosso prefeito...
- Meu pai não matou ninguém!
- Mandou matar, Rita. É a mesma coisa!
- Cadê as provas?
- Eu cosegui a cópia da matéria que o Custódio Fernandes ia publicar na semana em que morreu, e que misteriosamente tinha desaparecido. Ele tinha os doados no seu computador pessoal. Ninguém tinha pensado em olhar...
- Onde está? - insistiu Rita
- Está com Athos Ribeiro, do Ministério Público. Mas infelizmente ele é conivente com Boa Paz... E chamou uns capangas pra me pegar.
- Nani, você acredita nisso? Ou acha como eu que o Carlos endoidou de vez?
- Ritinha, o que o Carlos disse não tem nada de loucura. É tudo verdade. Pois se os homens do seu pai fora lá em casa e fiseram a maior baderna procurando ele...
Rita calou-se um instante chorou algumas lágrimas, recostada ao banco e, fitando o noivo e a cunhada disse:
- Vocês, Vocês dois... Nunca mais olhem na minha cara.
E saiu correndo do local. A Carlos Alves nada restou senão ir embora; não podia ficar mais nem um minuto naquela cidade. A qualquer momento o achariam e calariam a sua voz... Nani ainda tentou alcançar Rita, pra oferecer-lhe carona. Mas ela recusou energecamente. E prevferiu ir embora de taxi. Quando seu pai perguntou porque estava tão aparentemente triste aquela noite, ela evitou falar muito. Apenas proferiu laconicanmente:
- Rompi com o Carlos pra sempre...