8 de set. de 2008

Trecho de Obra de Fernando Lago

Paixão Proibida - Título Provisório (2006)

Nani Alves estacionou o carro um pouco além da enorme pedra rosa, uma das poucas atrações turisticas, que dava nome à cidade. Rita Boa Paz não entendia nada. Por que estaria a cunhada levando ela para aquele lugar tão escuso, tão ermo, e àquela hora da noite, quando só os velhos cachceiros e os ternos namorados estavam acordados? A tudo Nani repetia com um simples:

- O meu irmão precisa conversar com você.
- Mas por que assim? Por que aqui? Por que a essa hora?

Nani completava:

- É preciso

E a tudo que Ritinha questionava ela repetia essa frase: "É preciso."

Não teve coragem, porém, de revelar à cunhada o verdadeiro motivo de estarem ali. Pediu-lhe paciência e confiança. Confiasse nela; confiasse no noivo. Rita confiava em Nani. Mais ainda em seu noivo. Por isso tranquilizou-se e aguardou sentada no banquinho frente à pedra rosa, onde, havia poucos anos, conversara pela primeira vez com Carlos Alves.

- Parece que foi ontem...

- Como? - perguntou Nani alheia ao pensamento da cunhada.

- Estava lembrando daquela aula de campo... Parece-me que foi você mesmo que a promoveu.

- Qual? Já foram tantas... Mas aquela foi especial...

- Ah! - fez Nani com ar sorridente. Era a primeira vez que Rita a via sorrir desde que tinham saído sua casa - Já sei de que você está falando... Aquele passeio em que você conheceu meu irmão...

- Poe falar nisso, onde está ele, Nani? - fez Rita recuperando a impaciência

- Já vem...

- Começo a achar que tem algo errado...

Nani não disse nada. E foi justamente nesse não dizer nada que ela disse tudo a Rita. Sim, havia algo errado.

De repente Carlos Alves surge dos arbustos, com cara de apressado, mal retribui ao cumprimento da noiva. Se dirige rapidamente à irmã, com quem só pudesse confiar em uma pessoa além de si mesmo.

- Viu direito se alguém não seguiu vocês?

- Sim, Carlos, está tudo bem...

- Amor - disse Rita suplicante

Carlos olhava pros lados, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer para a noiva. Seu casamento seria em poucas semanas. Como dizer a ela que nada aconteceria como o planejado?

- Que está acontecendo? - insistiu Rita. E, reparando na bolsa que o noivo trazia ao lado - Parece que você está fugindo...

Outra vez o silêncio falou por si. Rita tinha o dom de escutar palavras não faladas, de ver coisas invisíveis. Mas tinha medo de interpretá-las corretamente. Por isso inventava fantasias quando podia. Mas agora ela se via frente a um fato impossível de fantasiar...

- A política partidária da nossa cidade é uma farsa, meu bem.

- Como assim? Por que está falando isso?

- Rita, você é filha do prefeito. Nunca vai enxergar a realidade por outra visão. Mas a verddade é que o mundo em política é sujo...

- Por que está falando isso, Carlinhos? Meu amor, você é político... Vai sair candidato pelo PDR ano que vem...

- Ia...

- Não vai mais? Ontem mesmo você não fazia planos pra sua carreira política? Que houve pra te fazer mudar de idéia em menos de vinte e quatro horas?

Carlos calou-se, mas Nani já estava cansada dessa conversa inocente. Rita parecia a mesma bonequinha da época da escola. Uma dondocazinha filha de prefeito. Inteligente, Nani reconhecia o potencial de um bom aluno. Mas uma coisinha sensível demais, que merecia uma conversa dura de vez em quando. Restaurou em si toda a autoridade pedagógica que tinha por dom, olhou nos olhos de Rita Boa Paz e, sem nehuma dureza, sem nenhum carinho, sem nenhum sentimento de cunhada disse:

- Carlos descobriu quem matou Custódio Fernandes.

- Quem foi amor?

- Foi o seu pai - arrematou Nani.

Rita não pôde se conter. Ficou vermelha e duas lágrimas rebentaram-se-lhe dos olhos.

- O PDR é uma quadrilha Rita - continuou Nani Alves - seu pai é simplismente o chefe... Eles matam sem escrupulos, sequestram roubam...

- Calma, Nani

- Mas ela tem que saber a verdade sobre o nosso prefeito...

- Meu pai não matou ninguém!

- Mandou matar, Rita. É a mesma coisa!

- Cadê as provas?

- Eu cosegui a cópia da matéria que o Custódio Fernandes ia publicar na semana em que morreu, e que misteriosamente tinha desaparecido. Ele tinha os doados no seu computador pessoal. Ninguém tinha pensado em olhar...

- Onde está? - insistiu Rita

- Está com Athos Ribeiro, do Ministério Público. Mas infelizmente ele é conivente com Boa Paz... E chamou uns capangas pra me pegar.

- Nani, você acredita nisso? Ou acha como eu que o Carlos endoidou de vez?

- Ritinha, o que o Carlos disse não tem nada de loucura. É tudo verdade. Pois se os homens do seu pai fora lá em casa e fiseram a maior baderna procurando ele...

Rita calou-se um instante chorou algumas lágrimas, recostada ao banco e, fitando o noivo e a cunhada disse:

- Vocês, Vocês dois... Nunca mais olhem na minha cara.

E saiu correndo do local. A Carlos Alves nada restou senão ir embora; não podia ficar mais nem um minuto naquela cidade. A qualquer momento o achariam e calariam a sua voz... Nani ainda tentou alcançar Rita, pra oferecer-lhe carona. Mas ela recusou energecamente. E prevferiu ir embora de taxi. Quando seu pai perguntou porque estava tão aparentemente triste aquela noite, ela evitou falar muito. Apenas proferiu laconicanmente:

- Rompi com o Carlos pra sempre...

Um comentário:

  1. Ah, então era isso q vc tanto escrevia nas aulas, nos primeiros semestres,e como assim futuro escritor? Mas escritor vc ja é... vc quer dizer futuro escritor famoso né.
    Parabéns pedagogo em formação, escritor, músico entre outras coisas mais. Vc tem um futuro promissor.

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?