28 de fev. de 2012

Somebody Samba

Imagem: Samba, de LAN (Lanfraco Vaselli)



Somebody
Me chamou pra sambar e
Cantar
Até o sol raiar
Fazer filosofia numa mesa de bar e
Se calhar
A antologia
De toda minha poesia
Recitar

Ela brincou de estrela na minha frente
Brilhou e iluminou a minha mente
Do amor que eu inventei comprou patente
Eu delirei
Com a loucura em seu olhar
Seu riso que me chamava pra dançar

O samba que eu cantei eu fiz pra ela
Quando ela atravessou a passarela
Eu lhe pisquei e ela nem deu trela
E eu fiquei
Com o olhar de abandonado
Pedindo aos céus pra tê-la ao meu lado

Ela pescou minha vida com um sorriso
Levou o que me sobrava de juízo
Passagem só de ida ao paraíso
Eu me joguei
Nos braços daquela morena
Que a nossa felicidade não seja pequena

Somebody
Me convidou pra sambar e
Ser feliz...

Fernando Lago – Fevereiro de 2012

22 de fev. de 2012

Ser um...




Na estrada da morte
Que a tua sorte me guia
Afia tua faca na minha mão


Tua imagem seduz
Com essa luz que alumia
Me leva pra longe
Da solidão

Cabelo reflete
O clarão que me ilumina
Menina eu quero o teu querer

Não sei se já sabe que eu não sei se já sabe
Acabe com isso e vamos ser

Um...

Preciso saber
Se é sério (esse) nosso caso
Acaso só eu que te quero bem?

Do bem que te quero há um só bem que me queres?
Preferes silêncio e eu também

Geleiras polares que o calor não derrete
Repete a história que se passou
Sabemos e cremos que o que cremos sabemos
Morremos da morte
Que nos tornou

Um...

Fernando Lago - 1 de Novembro de 2011


18 de fev. de 2012

O Conselho




Revelou naquele dia à amiga que estava apaixonado por uma outra amiga. Sabia que a amiga em questão apreciava sua companhia, mas daí a corresponder-lhe era esperar demais. A confidente estranhou que ele estivesse tão pessimista, afinal de contas a amiga do amigo – que era também sua amiga, nem era assim tão absurdamente bonita para lhe pregar um "não" de maneira tão cruel. Mas, de qualquer forma, não sabia se ele já tinha ouvido falar, mas corria as prosas por aí de que havia na cidade um certo conselheiro que sabia dar pitaco na vida de todo mundo. Negócio direito, testado e aprovado pelo primo do sobrinho do irmão da amiga da vizinha.

Mas o sujeito alegou que não era dessas coisas, e que iria pegar muito mal se ele fosse ao tal conselheiro, embora se sentisse verdadeiramente tentado a saber de uma opinião que não fosse à do seu próprio coração burro. Amiga fiel, a confidente logo se prontificou a ir ao famoso guru, contar a história tintim por tintim e arrancar um conselho que o amigo pudesse utilizar. Não tendo condições de negar, o amigo aceitou e aguardou o resultado.

Mal podia dormir de dores imaginárias de paixão. Depois de tanto aguardar, veio a ligação da amiga repassando ipsis litteris os dizeres do dotô:

“Como sua amiga está sempre contigo e aprecia a tua companhia, te afastas dela por pelo menos uns quinze dias, para ela sentir tua falta. Mas, atenção, nada de trapaças com o destino: afastar-se é afastar-se, sem meios termos e sem dar-lhe explicações. Ela, depois de muitas conclusões da própria cabeça, sentirá tua falta e há de te procurar e só então verificarás se ela é realmente digna de que te reveles apaixonado.”

O rapaz seguiu à risca a sugestão do conselheiro. Mas, já no quinto dia, tudo se revelou vão. Pela manhã, recebeu a notícia de que o objeto de seus sonhos platônicos tinha se suicidado deixando um bilhete em que revelava o sentimento de que seu amado – ele – se afastava e que se era assim, melhor era não viver. Consumatum est.

O que se seguiu foi uma festa de choro e culpa, por mais que se tentasse convencer as partes do contrário. O amigo achou que a culpa era dele, por ter seguido conselho tão absurdo, ao invés de continuar na companhia de sua amiga-amada. A amiga-confidente do amigo achou que a culpa era dela por ter sugerido, e mais, ter ido, e mais, ter transmitido as interpelações do jovem ao conselheiro, e mais, ter transmitido ao amigo as respostas do interpelado.

Quanto ao conselheiro, tomava um café enquanto lia o seu jornal matinal, comentando as manchetes mais interessantes:

- “Jovem suicida-se na Vila Nova”. Veja só que coisa, Maria! Uma pessoa tão moça se suicidar assim! Aposto que se tivesse se aconselhado comigo antes, a essa altura ainda estava viva...


Fernando Lago – Fevereiro de 2012

5 de fev. de 2012

A sonolenta airosa



Era uma princesa, dessas que há por aí aos montes, de um reino distante como todos são, e que, como toda princesa dessas que há por aí aos montes e que vivem em reinos distantes como todos são, era linda e tinha muitos seguidores nas redes sociais. Como não é de se surpreender, toda essa lindeza e popularidade causa inveja, e foi por essa inveja que uma bruxa, depois de tantos malwares e trojans enviados para o sistema da menina, resolveu apelar e encheu uma seringa com uma substância que ela mandou vir da Colômbia, espetando o dedo da princesinha na festa de lançamento do seu novo blog de moda, para qual, obviamente, a outra não tinha sido convidada.

Como a droga da Colômbia era do Paraguai[1], ao invés de emborcar mortinha da silva ali na mesma hora, a menina apenas caiu num letargo profundo e a bruxa foi presa no ato. Como a essa altura do campeonato ninguém tinha tempo de consultar dicionários para saber o que era letargo, anunciaram no mural do facebook que a princesinha estava tirando uma soneca induzida, por uma droga ainda desconhecida, de procedência colombiana, mas que era o maior barato. Logo a apelidaram de Bela Adormecida, apelido óbvio, uma vez que a menina era realmente bonita e, ao contrário de todos os que curtiam e compartilhavam os anúncios da sua moléstia na madrugada, dormia.

Um sábio, desses que sabem pouco de tudo e tudo de nada, disse que a princesa só acordaria com um beijo do amor verdadeiro. Logo iniciou-se uma campanha não muito higiênica para achar o amor verdadeiro da moça, incluindo umas bitoquinhas de príncipes de todas as regiões.

A Polícia Federal do reino[2] teve acesso ao histórico de conversas instantâneas da moça e descobriu um sujeito de um reino não muito distante do reino distante[3] que estava trocando mensagens com a moça na última noite antes do baile. Trataram logo de chama-lo, sem saber que ele já estava a caminho no seu cavalo branco, passando, naquele exato momento, pela alfândega que o impediu de entrar no país por causa de umas graminhas de uma planta alucinógena que ele trazia[4].

Mas tudo se resolve, em nome da diplomacia. Por ordem direta do rei, o rapaz foi liberado[5] e voltou à cavalgada, chegando suado e estupefacto[6] na alcova da moça, com direito diplomático de cortar a fila de supostos amores verdadeiros que passavam por uma vistoria minuciosa[7] da rainha. Como o tempo urgia, o jovem príncipe do reino distante foi logo caindo de boca na gatinha que, pra comoção geral dos circunstantes, não acordou.  

Enquanto isso, a bruxa malvada que era filha de um senador influente do nordeste do reino, conseguira um habeas corpus e comprava duas passagens pra ir à Disneylândia com um pobre e simples professor de informática da corte, que era, na verdade o grande amor verdadeiro da princesa.

MORAL: amor não-correspondido é uó.


[1] E isso se chama globalização
[2] Você não leu errado.
[3] Por ser também distante
[4] Mas jurou que não era dele!
[5] O que são as imunidades diplomáticas!
[6] Ipso facto
[7] Muito minuciosa