Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...
(Álvaro de Campos)
Derramo no papel parte de mim
Que oculta o sorriso dos meus lábios
Por muito cri que assim fazem os sábios:
Mostrar-se em fragmentos, o seu fim
O que lhes mostro é pouco interessante
Não menos do que aquilo que escondo
Um ser jamais completo ou redondo
Buscando-se em ânsia alarmante
Perceba a discrição com que descrevo
Por medo de dizer minhas verdades
Que nem de mim pra mim eu me atrevo
Por medo da minha sinceridade
Encerro o soneto que escrevo
Discreto e descrito à metade.
Dezembro de 2011