20 de jun. de 2009

Simone (A propósito de Filmes)

A propósito de filmes, estive pensando muito sobre isso nos últimos dias; fazendo considerações ponderáveis e ponderações consideráveis acerca da sétima arte, sem dúvida de grande significado sócio-filosófico para o ser humano. Não é nenhuma tese de doutorado. É apenas algumas coisinhas interessantes que estive pensando com relação aos filmes que assisti (e mesmo aos que não assisti).

Diz-se que não se julga o livro pela capa. Filme também é assim. E acrescento que não se julga o filme apenas pelo trailer. O que estou dizendo é que há filmes que conquistam a gente de maneira surpreendente, mesmo sem ter os elementos que a gente gosta de ver em um filme. O padrão industrial hollywoodiano. Vide De repente, Gina.

Os machões antiquados têm uma fala muito engraçada que ilustram isso. “Tem tiro? Não? Então não pode ser bom filme.” A verdade é que já está incrustado na nossa cabeça que um bom filme de ação tem que ter tiroteio, perseguições de carro, explosões, essas coisas. E realmente é muito excitante, mas só isso não é o bastante. Se o cara se fecha no estereótipo ele acaba escolhendo um mau filme sem querer. Tenho dois ou três exemplos desses em minha vida de telespectador.

Certa vez ao entrar na locadora vi que todos os bons filmes de ação estavam já locados, principalmente os lançamentos. Na prateleira havia apenas um, em cuja capa aparecia uma grande explosão de um ônibus numa rua movimentada de Nova York. Nem perdi tempo em ler a sinopse, joguei logo na sexta e loquei o filme. Ao chegar em casa, que decepção! A explosão que aparecia na capa do filme era a única em toda a trama, e acontecia lá no meio do filme, quando já se tinha até esquecido que locou o filme só por causa daquele estouro.

Agora uma coisa bem engraçada é que filme também tem seu tempo. Como assim? Exemplifico. Vocês provavelmente já viram Matrix. Talvez não a trilogia completa, mas pelo menos um deles você já deve ter visto. Este filme dividiu opiniões no cinema e a minha era totalmente negativa. Acontece que eu estava vendo o filme do ponto de vista do entretenimento. Alguns janeiros depois de eu ter assistido ao primeiro filme da trilogia na TV aberta, já ingressado na UNEB, abriu-se uma discussão acerca das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s). Para ilustrar o debate o professor promoveu a exibição de Matrix, o que foi encarado como uma grande besteira. Um filme de ação/ficção científica na Academia! Esse cara tá doido! No entanto esta exibição nos levou a enxergar o filme com outra linguagem, com outro ponto de vista, analisando o discurso dos personagens e a história que o filme apresenta. Achei a história impressionantemente relevante e nela podíamos inclusive identificar os conceitos de Ideologia e Alienação de Marx; com a diferença de que no filme os humanos são alienados de sua vida pelas máquinas – o que não estaria muito longe da nossa realidade, se as nossas máquinas não fossem governadas pelos próprios humanos. Mas aqui temos pano pra manga! Talvez em outra postagem...

Exemplo parecido foi uma vez que eu estava olhando os lançamentos, indeciso, lendo sinopses, observando as imagens, quando o cara da locadora (até hoje só o conheço como o cara da locadora) chegou e indicou-me A Ilha, “O melhor filme de ação do ano”, segundo o atendente, a revista e a capa do DVD. A opinião do cara da locadora, a fala da revista, as explosões na contracapa e a bela loira que protagonizava o filme me convenceram a levá-lo pra minha casa. Não consegui assistir. Vi os pedaços da estória nos momentos em que os outros assistiam e, apesar das explosões, gritarias, etc, não tive a mínima vontade de assisti-lo posteriormente. Ficou por isso mesmo. Alguns anos depois, estando eu sem fazer nada em casa liguei a televisão e que filme passava? A ilha! Estava no início, então resolvi parar pra ver se entendia qual era a daquele galego mais aquela loira. Gostei da história e assisti ao filme até o final.

Por último, gostaria de contar a reflexão que deu origem a toda essa análise amadora e exageradamente longa – eu ultimamente não tenho me controlado na escrita. Há já alguns dias que a fiz, a propósito de uma lembrança que tive.

Há cerca de três anos eu fui a Porto Seguro passar certo feriado prolongado com minha família. Estudava o 3º ano do ensino médio, na época. Como tinha um trabalho pra fazer e entregar vim na frente, chegando aqui mais cedo para dar tempo fazer o bendito trabalho. Ao chegar em casa vi na estante alguns DVDs de filmes e, olhando um por um não achei nenhum que me agradasse. Marquei apenas um mísero DVD pirata, sem capa e sem estampa, com um nome de mulher escrito a Piloto na superfície: SIMONE. Por se tratar do nome de uma mulher, achei que pudesse ser um filme razoavelmente bom. Marquei-o para dar uma olhadela depois.

Alguns dias depois, cumpridos os compromissos escolares, lembrei-me do tal filme e fui ver qual era a da tal Simone. A história parecia-me besta. Um diretor cinematográfico chamado Victor Taransky (Al Pacino) brigava com uma atrizinha exigente e acabava ficando sem possibilidade de realizar seu filme. A primeira parte do filme se limita a contar as mazelas deste diretor, separado de sua ex-mulher, que é ainda por cima uma das diretoras do Studio. Assim, correndo de credores e das dívidas, Vuctor acaba encontrando um expert em informática que lhe fala de certo programa de computador que revolucionaria os filmes da telona. Como o cara parecia um maníaco, Taransky dá pouca atenção pra ele. Aí você pergunta, mas onde entra a tal Simone nessa história? Calma!

Encurtando a estória, o expert acaba morrendo de câncer (justamente provindo de suas “atividades computadóricas”) e manda entregar os HDs com um programa chamado Simulation One a Victor Taransky. Simone (Rachel Roberts) é justamente esse programa. Explico: o projeto era criar uma atriz totalmente virtual, mas com uma eficiência nunca vista. Sem atriz para protagonizar o ser filme, Victor vê em Simone a sua única saída. Usa a atriz virtual como protagonista do seu filme, com certo receio de ser acusado de antiético pelas academias de cinema. Todos os medos do diretor se amenizam ao perceber que a principal preocupação da crítica cinematográfica era saber de onde um diretor tão obscuro teria tirado uma atriz tão boa.

Através de Simone, Victor alcança muito êxito e usa de técnicas de marketing para mantê-la no topo e para que ninguém saiba que ela é irreal. Simone vira uma pop star a nível mundial. Mas todos começam a desconfiar da fidelidade cega que Simone tem para com seu diretor e começam a acusá-lo de mantê-la em cárcere, lavagem cerebral, coisas desse feitio. Com o tempo Taransky passa a odiar Simone, mas não consegue reverter o seu sucesso. Então ele percebe que a única maneira de se livrar daquele fardo era Simone morrer. Anuncia ao mundo a morte de Simone e destrói, através de um vírus, o programa que lhe deu a fama. Junta todos os arquivos em um baú e o joga em alto mar.

Durante o enterro, porém, um policial fã de Simone, abre o caixão desconfiado e percebe que não há corpo. Victor Taransky passa a ser acusado pelo assassinato de Simone e é preso. Revela então a verdade, que Simone era apenas uma ilusão, um programa de computador, mas ninguém acredita, principalmente quando vem a público uma gravação do sistema de segurança do cais que mostra ele carregando um enorme baú. Quem descobre a verdade são sua filha e sua esposa, que conseguem recuperar todos os dados do Simulation One. Simone aparece em cadeia nacional e revela ao público que tudo não passou de uma estratégia de Marketing.
Foi ao lembrar este filme que desenvolvi toda essa reflexão acerca do cinema. Agora penso que é hora de parar... Já escrevi muito! E ler não é tão gostoso quanto assistir.
Fernando Lago - 20 de junho de 2009

Um comentário:

  1. Acontece isso comigo direto, assisto um filme e em uma nova opurtunidade o filme aparece com uma outra cara, acho legal isso. Enquanto a Simone parace bem interessante, em alguma opurtunidade irei procurar assisti-lo.

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?