22 de abr. de 2010

O Que será SERA?


O que será SERA[1]

Ou que SERA será?


Depois do longo processo a que se é submetido hoje em dia para ingressar-se numa universidade pública, estava enfim aprovado no vestibular, matriculado na UNEB e pronto para iniciar o curso. Meus pais e amigos mais vividos aconselharam-me a raspar a cabeça. Assustei-me.

- Pra quê?

- Por causa do trote...

Não raspei a cabeça. Nem estava com medo, na verdade... Mas depois do que disseram fiquei até meio apreensivo.

Não houve trote violento. Foi a primeira coisa que a diretora buscou deixar claro durante a saudação dos calouros. A então gestão do Diretório Central dos Estudantes tinha preparado uma Semana de Recepção Acadêmica - SERA (de três dias, mas perdoa-se essa falha na contagem, semanas de três dias são muito comuns no âmbito acadêmico). Atividades que visavam apresentar a Universidade ao calouro e algumas brincadeirinhas “leves” com estes. Como dizem por aí, a piada não tem a menor graça quando o interessado não ri.

Neste semestre de 2010.1 devo reconhecer que o SERA se superou. Não é nenhuma novidade isso; já tenho dito em vários cantos diferentes da Universidade e podem confirmar com alguns professores, que com certeza concordarão comigo. E disse isso também muitas vezes aos próprios meninos e meninas que compunham esta comissão, antes mesmo de o evento acontecer – tive a oportunidade de dar uma conferida nos folders previamente. Moral, não é?

As atividades propostas permitiram a interação entre os novos ingressos e as diversas instâncias da universidade; e a compreensão de universidade como um espaço educativo que transcende à sala de aula, por meio da pesquisa e da extensão. Um meio de nós – estudantes universitários financiados pelo povo (e não pelo governo, como se pensa), retribuirmos este financiamento à sociedade. Buscou-se, assim, mostrar-lhes o significado amplo de estar numa universidade pública e a diferença existente entre Universidade e Faculdade. Uma Instituição de Ensino Superior só é reconhecida como universidade se promover, juntamente com as atividades de ensino, atividades de pesquisa e extensão. É o que se chama de tripé da universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão. Três elementos indissociáveis, que mesmo na universidade pública ainda enfrentam opiniões contraditórias[2].

Para muitos, já iniciados nestes assuntos acadêmicos, não parecerá novidade trazer estas informações na entrada dos educandos à universidade. Contudo, a nossa cidade é essencialmente comercial. A maioria dos estudantes que saem do Ensino Médio chega à Universidade sem saber nada sobre ela, e geralmente vão ter acesso a essas informações no meio do curso, sendo pegos por algumas surpresas... Por isso é importante trazer, além das brincadeiras, essa familiarização entre estudante e universidade desde o primeiro semestre.

Além da palestra sobre a historicidade e a natureza da Universidade, com duas grandes professoras do nosso departamento – das quais eu posso puxar o saco sem medo, porque merecem – Prof. Msc Maria Mavanier A. Siquara e Prof. Drª Maria Nalva R. Araújo; das conversas relacionadas à história e ao funcionamento atual do Movimento Estudantil; dos bate-papo com os técnicos e funcionários da Universidade sobre os serviços de biblioteca, laboratórios, etc. houve também apresentação de atividades com diversos grupos culturais da nossa cidade, entre eles, karatê, capoeira, movimentos de Hip Hop, teatro, etc.

A maioria dos eventos universitários sempre tem um momento para apresentações e atividades culturais. No entanto, na maioria das vezes os artistas chegam, se apresentam e vão embora. Desta vez buscou-se fazer diferente. Além das apresentações com os grupos culturais houve também momentos de “Dedim de prosa” com os atores[3] dos grupos, que explicavam o significado da sua atividade para a comunidade e para eles próprios. Esta aproximação da Universidade com a Comunidade é muito importante. Como nos disse a Profª Nalva, se é ali um espaço financiado pelo povo, e o povo não entra lá devido às imensas dificuldades impostas pelos processos, nós que conseguimos entrar temos que promover a participação do povo através das atividades de extensão, em parceria com estes movimentos sociais.

Assim – para concluir, que já me estendi muito além da conta – volto a dizer o que já se repetiu muito aos diversos cantos da universidade por mim, e por muitos amigos, professores e estudantes: esses meninos e meninas do SERA estão de parabéns pela realização deste evento de grande importância científico-cultural e uma bela e inteligente alternativa aos temidos trotes universitários que enchem as páginas do jornal. A proporção deste evento deve ser ainda maior. Por ora a realização foi sempre dos estudantes, com apoio da direção do departamento, do Núcleo de Pesquisa e Extensão do campus X e de alguns colegiados. No entanto, acredito que este evento pode ser apoiado pela Universidade e, inclusive, por ela financiado. Uma atividade como esta não apenas contribui para a abolição dos trotes na Universidade como também é uma forma de promover a integração dos calouros com a Academia e com os movimentos culturais da região, muito pouco divulgados. Se reconhecemos que a formação humana provocada[4] na universidade se estende para outros espaços e neles se complementa é preciso promover a participação destes estudantes (futuros educadores/cientistas/pesquisadores) nestes tais espaços.

Por fim, podemos citar como exemplo a apresentação da peça teatral de Silvestre – um monólogo que mexeu com muita gente – e do “Dedim de prosa” que provocou-nos a preparar um projeto de uma oficina de teatro, numa parceria entre o ator/diretor e o Movimento Estudantil.

Aguardem, vocês irão ouvir falar...


Fernando Lago Santos - Abril de 2010


[1] Não sou da gestão do DCE. Isso não é campanha política. É só confirmação escrita e pública do que já falei e repeti oralmente. Mas sim, admiro este povo e me considero parte do Movimento Estudantil, que vai muito além da Gestão do DCE. No entanto, todas as afirmações são de minha inteira irresposabilidade.

[2] Há aqueles que dão mais importância a um ou a outro, mas são três elementos indispensáveis e indissociáveis para a formação.

[3] Atores aqui não no sentido teatral, mas no sentido de alguém que age.

[4] O papel da universidade é, muito além de ensinar, provocar o estudante a buscar também outras fontes de conhecimento.

2 comentários:

  1. Obrigada Nando pelo carinho das palavras, fazer movimento é muito dificil, mas a recompensa é muito grande quando vemos que nossas atitudes despertam nos outros coisas tão boas, e nisso tudo ainda colher frutos. E aproveitando o espaço... agradecer a cada sujeito q colaborou com esse evento q vai ficar na nossa história. bjo toddy

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  2. Mel,
    qualquer pessoa que faça um rabalho destes, de conscientização integração - e inclusive científico - pode sempre contar com meu apoio.

    Parabens, pela trocentésima vez!

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?