1 de nov. de 2011

Di Visão

Imagem: Foto Aérea do Lago Verde Amarelo, Nova Zelândia



É isto. Mais um pouco aos meus vinte e poucos. Soma anual que sempre vem acompanhada – não sei por que – de uma intensa reflexão quase depressiva sobre os insucessos dos anos que se passaram. E por enquanto permanece o valor da frase da música do Renato Russo: “desses vinte [e três] anos, nenhum foi feito pra mim”...

Sou pessimista durante o ano todo, diariamente, quase que vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana (e hiperbólico na mesma frequência). Mas nessa época do ano a coisa parece que vem de uma maneira mais descarada, mais amostrada, mais zombeteiramente esclarecida. Meu pessimismo me conhece e sabe todos os meus podres.

E sempre vem. Às vezes exibicionista, me obriga a escrevê-lo em texto ou poesia e publicá-lo, ou dizê-lo aos quatro cantos dos ouvidos do mundo. Às vezes se esconde atrás da minha orelha em forma de pulga ou debaixo da minha língua em forma de muxoxos repetitivos e imediatos que expressam, em língua própria, aquilo que os textos expressariam. 

Um dia, nesta mesma data, numa ocasião em que o meu pessimismo resolveu não se esconder, disse em letras computadóricas que me recusava a puxar o saldo das mais de duas décadas de vida, com medo dos indícios de retiradas sem depósito que provavelmente apareceriam. Mas menti. Menti porque o saldo está sempre piscando em vermelho na frente dos meus olhos, mesmo que eu não o publique. Sigilo bancário, beibe! Direito meu, enquanto cidadão honrado e honesto.

Mas nem só de águas poluídas é feito esse Lago. Do lado de cá da margem há uma vila ribeirinha que abriga pescadoras e pescadores de afeto, que muito merecem meu sorriso, o qual eu não nego, mesmo se a coisa estiver preta (se me perdoam o uso dessa expressão racista que ainda não desaprendi). Mas são estes que me fazem ser, por momentos, até otimista, vejam só. E me apresentam sonhos e me acordam dos pesadelos e me dizem palavras bonitas, ou feias que se tornam belas (iscas inofensivas) na ponta dos seus anzóis. Nestes momentos em que me encontro tão pessimista, nada como lembrar destes aventureiros que juram que conseguem fisgar alguma coisa de bom em mim. E mantém-se perto, mesmo sem eu pedir...

Pois sou isso. Um Lago dividido em margens antagônicas que se chocam numa pororoca sem ondas. Sou um turbilhão pacífico de irritação. Um rumor de silêncios, o paradoxo mais racional que a História não conheceu. Enfim, sou Fernando e sou Lago, é isto. E lá se vão vinte e três anos que essa explicação tem bastado.

Fernando Lago – 01 de Novembro de 2011

2 comentários:

  1. Bem que esse lago verde e amarelo podia ser no Brasil. Tem cores de nossa bandeira. Mas, deixemos que os habitantes de Nova Zelândia
    zelem por ele.

    Deixe de pessimismo, vinte e três anos ainda é vinte e poucos anos. Quando passar dos vinte e cinco será mais da metade de vinte e poucos,logo, vinte e muitos anos. Aí sim, comece a se preocupar. Dizem que depois dos vinte e cinco a vida se resolve ou a pessoa se ferra de vez.Creio que isso seja boato, nada que bons atos não resolvam a vida.

    Parabéns pelo seu aniversário, parabéns pela maturidade na escrita. Sucesso para você.

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  2. Ahh, eu sorri. Esse sorriso quebra seu pessimismo? Não, né? Mas perdão...meu otimismo crônico me fez sorrir.

    Parabéns pelos vinte e poucos anos! Hehe... Mês que vem entro na casa dos vinte. Muito otimista!
    Tudo de melhor =D

    Beeeijo.

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?