Imagem: Filme Pickpocket (O batedor de Carteiras), Robert Bresson.
- Quem foi que velou?
- Como é que é? – fiz,
como se estivesse sendo despertado de um leve cochilo.
- A bezerra – disse ela
com um meio sorriso.
- Ah! – fiz entendendo
e entrando no espírito da piada – sim, uma fatalidade! Tão jovem...
- O senhor não perde
essa mania de ficar pensando na morte da bezerra, hein!
- Perdão?
- Não se lembra de mim,
pelo visto.
- Evidentemente...
- Felícia.
- Felícia, Felícia... É
um bonito nome, me remete a algumas conhecidas, porém nenhuma com o seu rosto.
- Participei de uma
oficina de redação que você deu...
- Ah... Mas a única
oficina de redação que dei foi há... é sério?
- Dez anos. Seríssimo.
Como pôde se esquecer de mim?
- Estou me perguntando
a mesma coisa...
Na verdade, durante os
beijos que trocávamos dali a algumas horas, indo em direção ao Motel
Califórnia, eu me lembrei perfeitamente de quem ela era. À época, uma
ninfetinha assanhada e magra, sem muitos atrativos, semi-adolescente. Dizia-se
apaixonada por mim e, certa vez, tive que desviar a mão dela que ia, digamos,
em direções não muito confiáveis. Outro dia, ao despedir-se de mim ao fim de
uma aula, beijou-me no rosto com tanto fervor que arrancou exclamações da
turma. Ela, nas pontas dos pés, quase não me alcançava a face. Agora estava com
o dobro do tamanho, sendo que boa parte do seu metro e setenta era de pernas,
lindas, naquele vestidinho preto (indefectível).
Sim, eu lembrava dela,
mas continuei fingindo que não, até para mim mesmo. Não quis desfazer o encanto
de a estar conhecendo de novo.
Fernando Lago – Novembro de 2012
Adoro a mulher de vestido, se for um tubinho pretinho, então o tio delira, viaja, seu post é agradável de ler, pode avançar um póquinho, aquecer um pouco mais, mas imaginei o que há de vir, gostei pra vc um fraterno abraço do tio Castanha...
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