18 de fev. de 2009

A História de Torres

Diz que Torres era um cara
Que roubava pra valer
Mas ele justificava
Dizendo que só roubava
Para ter o que comer

Ele não pensava muito
Nas suas perpetrações
Chegava e roubava mesmo
Lugar cheio, lugar esmo
E não dava explicações

Ponta de cigarro velho
Pedaço de pão dormido
Não fazia distinção
E nem discriminação
Era ladrão assumido

Mas nunca ficava preso
Aquele pobre coitado
Polícia sempre pegava
Mas logo verificava
Que era um esfomeado

Querer até que queria
Se hospedar na dona justa
“Assim eu encho a barriga
Mato a fome das lombriga”
Zombava de cara enxuta

Certa feita, o velho Torres
Meteu os pés pelas mãos
Roubou de quem não devia
E o flagrante lhe exigia
Cumprir uma punição

Furtou-se em defender-se
Porém ninguém lhe escutou
“Vais encarar a justiça
Por causa de tua cobiça”
Um dos homens lhe falou.

Ficou tranqüilo o ladrão
Pois sabia no que dava
Em se encarar a justiça
Podiam chamar a polícia
Ele sempre se safava

Riu-se o homem e lhe disse
“Não haverá camburão
Pois já lhe sentenciaram
E todos o condenaram
A perder as duas mãos”

Riu-se o nosso Torres
Com um riso camarada
Pois então o puniriam?
As suas mãos cortariam?
Só podia ser piada!

Mas assustou-se ao ver
O carrasco carregando
Um poderoso facão
E posicionar sua mão
Numa pedra lhe ordenando

Não se mexa, do contrário,
Ao invés de sua mão
Cortar-te-ei a cabeça
Portanto não me aborreça
E aceite sua punição

Não houve jeito se não
Aceitar sua sentença
Agüentar aquela dor
Ver sumir-se com horror
A sua subsistência

E disse: “Vocês, capetas
Tiraram meu ganha-pão
Tudo que sei é roubar
E pra me alimentar
Eu tinha que ser ladrão”

“Some daqui, fi’ da peste!
Toma o caminho de trás!
Recebeste teu castigo!”
Disse, e rindo consigo:
“Esse rouba é nunca mais!”

No entanto estava errado
O maléfico algoz
Pois sem mãos para roubar
Torres passou a pensar
Tornou-se astuto e feroz

Vive numa casa de luxo
Roubou do doutor num jogo
Que na trapaça ganhou
Mas ele não se emendou
E mesmo com o dinheiro
Que ele já “conquistou”
Continua com um plano:
Vai roubar o povo insano
Que às suas mãos cortou.

Foi assim que me contaram
E é assim que eu vos passo
Ratifico as palavras
Na poeira do espaço
Aqui não se diz mentira
Não me acuse de homem falso
Do que digo tenho prova
O que não tenho eu faço.


Fernando Lago – 15 de Fevereiro de 2009

Um comentário:

Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?