20 de jul. de 2009

Ensaio sobre a cegueira (2)


Mas faltou-me um esclarecimento mais incisivo acerca do que se trata na obra e no filme referidos no texto anterior. É menos uma obra científica do que filosófica. Portanto, não esperem grandes explicações, grandes efeitos, grandes “fights” ao estilo americano. É uma obra acima de tudo filosófica.

A história começa num trânsito em balbúrdia, como o de São Paulo – onde, aliás, dizem ter sido filmada a primeira cena. Um homem asiático – eu nunca soube diferenciar chinês, japonês e coreano – dirige o seu carro no meio desse trânsito e de repente fica cego. Um único homem se dispõe a ajudá-lo e o leva pra casa – tudo bem que ele rouba o seu carro depois, mas ajudou o cara, né. A mulher leva o rapaz ao oftalmologista que não vê nada de anormal nos olhos dele. Na verdade nunca tinha visto nada como aquilo, porque o homem dizia que não era uma cegueira comum, mas que ele enxergava tudo branco. Nenhuma doença cabia naqueles sintomas. O oftalmologista, então, indica um hospital pro rapaz.

Todos os outros pacientes que estavam na clínica aguardavam atendimento e, solidariamente tinham deixado o homem passar à sua frente, visto que o caso dele era obviamente urgente. Logo o rapaz cego saiu, o médico oftalmologista seguiu a sua rotina, atendendo aos outros pacientes. No entanto fica intrigado com aquele caso. Poder-se ia se tratar de uma nova doença de olhos? No dia seguinte ele acorda e comunica à mulher que estava cego, sentindo os mesmos sintomas que o asiático descrevia. Isso significava que a cegueira do rapaz era contagiosa.

Todos os pacientes da clínica que estavam na sala de espera naquele dia, todos os que tiveram contato com eles e todos os que tiveram contato com quem teve contato com o asiático começam a ficar cegos. Até mesmo o cara que lhe roubou o carro. A cegueira era instantânea, repentina. O governo precisava controlar a doença. Como ninguém nunca tinha visto nada assim, a solução foi isolar os infectados numa quarentena rígida, com cara de presídio, guardada por soldados fortemente armados, para que nenhum infectado escapasse. E é aí que se passa a parte mais filosófica do filme.

A mulher do oftalmologista (dificilmente gravo nomes de personagens de filmes, mas tenho pra mim que esse não nomeava nenhum) não ficou cega, apesar de ter tido contato direto com o marido. Fingiu-se de cega para ser internada junto com ele na quarentena. De todo o espaço ela era a única que enxergava. “Em terra de cego quem tem um olho é rei.”
Não vou lhes contar todo o filme, fiquem tranqüilos; tiraria o gosto da coisa. Como disse, é vão esperar por uma obra de ficção científica, por mais que a situação – todo mundo cego – aguce as nossas mentes. O filme não explica de onde vem tal cegueira, porque é tão contagiosa e principalmente, porque só a mulher do oftalmologista não a contraiu. Mas a intenção aparentemente não é ser de ficção científica mesmo, mas um filme filosófico, para nos fazer pensar e refletir. Não estaríamos, na verdade, todos cegos realmente?

Fernando Lago Santos – 19 de Julho de 2009

P.S.: Ainda quero ler a obra original, o livro de Saramago. O dito aqui trata-se apenas do que vi no filme.

Um comentário:

  1. Ei Nando q legal sua visita aki.... tava sentindo falta...
    inte mais
    Bjinho
    mone

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?