7 de out. de 2009

A vingança do berimbal

Como meus caros amigos devem ter reparado, não costumo postar aqui coisas que não são de minha autoria. Não é nenhuma birra com ninguém, nem vaidade intelectual de querer mostrar que é um blog independente ou coisa e tal. É só que eu tenho outros espaços para fazer esse tipo de divulgação (e-mail, orkut, netlog e tals). No entanto, resolvi abrir um parêntesis para postar essa poesia que li há algum tempo atrás e relembrei hoje quando ela foi citada na reunião com docentes e discentes da Pedagogia VI na UNEB. Considero muito propícia às últimas discussões, debates e aprendizados que tenho feito.

A vingança do berimbau

(Miguezim de Princesa)

I

Superado pelo tempo,

Ensinando muito mal,

Fabricando mil diplomas

Para entupir hospital,

O doutor da faculdade

Botou, com toda maldade,

A culpa no berimbau.

II

Disse o doutor Natalino

Que o baiano é um mocó,

Sem coragem e inteligência,

Preguiçoso de dar dó,

Só liga pra carnaval

E só toca berimbau

Porque tem uma corda só.

III

O sujeito ignorante

Não conhece o berimbau,

Que atravessou o mundo

Com toda a força ancestral.

Na fronteira da emoção,

Traz da África a percussão

Da diáspora cultural.

IV

Nem Baden Powel resistiu

À percussão milenar,

Uma corda a encantar seis

Na tristeza camará

De Salvador da Bahia.

Quem toca e canta poesia

Na dança sabe lutar.

V

O doutor, se estudou,

Na certa não aprendeu nada:

Diz que o som do Olodum

Não passa de uma zoada

E a cultura baiana

É uma penca de bananas,

Primitiva e atrasada.

VI

Jimmy Cliffi, Michael Jackson,

Paul Simon e o escambau

Se renderam ao Olodum

Com seu toque genial,

Que nasceu no Pelourinho

E hoje abre caminho

No cenário mundial.

VII

O baiano é primitivo?

Veja só o resultado:

Ruy foi o Águia de Haia;

Castro Alves, verso-alado

De poeta condoreiro,

E gente do mundo inteiro

Se curvou a Jorge Amado.

VIII

Bethânea, Caetano e Gil,

Armandinho, Dodô e Osmar,

Gal Costa, Morais Moreira,

Batatinha a encantar

João Gilberto, Bossa Nova

Novos Baianos são prova

Da grandeza do lugar.

IX

Glauber, no Cinema Novo;

Gregório, velha poesia;

Gordurinha, no rojão;

Milton, na Geografia;

Anísio, na Educação;

Dias Gomes, na encenação;

João Ubaldo e Adonias.

X

Menestrel da cantoria

Temos o mestre Elomar,

Xangai, Wilson Aragão,

Bule-Bule a improvisar,

Roberto Mendes viola

A chula – samba de Angola,

Nosso samba de além-mar.

XI

Se eu fosse citar todos

Que merecem citação,

Faria um livro de nomes

Tão grande é a relação.

Desculpe, Afrânio Peixoto,

Esse doutor é um roto

Procurando promoção!

XII

Com vergonha do que fez:

Insultar toda a Nação,

O tal doutor Natalino

Pediu exoneração

E não encontra ninguém,

Nem um nazista do além,

Para tomar a lição.

XIII

O baiano é pirracento,

Mas paga com bem o mal:

Dá uma chance a Natalino

Lá no Mercado Central

De ganhar alguns trocados

Segurando o pau dobrado

Da corda do berimbau..

3 comentários:

  1. Ei Nando como vai?

    Belo post...rs adorei

    Bjinho.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Fernando Lago... O moço que dançou ciranda comigo, está lembrado? (rsrs)
    A poesia traz uma excelente crítica. Dia desse na sala de aula abordamos a mania de perseguição com o baiano, quando é atribuido a ele o "ser preguiçoso", como pode hein? Foi um diálogo interessante, e seria bom se tivéssemos analisado "A vingança do berimbal".
    Acho muito bom esse intercâmbio entre o dia-a-dia do estudante e suas escritas e ainda mais quando voltamos a encontrar um mesmo texto trabalhado tempo atrás e relembrando os diálogos sobre leitura, é bom ter a certeza de que nenhuma leitura é igual a outra, nossa visão sempre se aguça cada vez mais ao ler e reler algo.
    Grande abraço...
    Nos encontramos nos FELIC da UNEB.
    Abraços...

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?