15 de out. de 2010

Da discreta arte de ser indescritível*

Caríssima, 

Nem sei como começar sem parecer estar te imitando...


Pensei que nessa vida gente assim era coisa rara. Coisa de uma ocorrência em cada país, talvez em cada planeta. Isso é um pouco do meu ego negativo, de achar que nessa vida ninguém é tão tímido, calado e metido em si como eu... Sua mensagem mudou um pouco essa minha visão, porque vi que você tem muito de parecido comigo... 

Sou tímido, e também sou constantemente tachado de sonso. Pra falar a verdade ainda não aprendi a diferenciar uma coisa de outra; talvez porque não saiba exatamente o que é uma coisa e o que é outra. Me entendes? Acho que não... Falo muitas asneiras constantemente e provavelmente inintendíveis a criaturas de cabeça lúcida. Acho que pra entender uma cabeça como a minha só sendo louco. Ou psiquiatra, o que – dizem por aí – não é muito diferente.

Pois é, você pediu que eu me descrevesse e acho que minhas palavras me denunciam: sou indescritível. Há alguns aventureiros que se arriscam. Uns dizem que sou inteligente, outros que sou lesado, outros que sou inteligente, mas lesado. As opiniões divergem-se, inclusive a minha. Acho que sou uma dessas criaturas que há no mundo, tipo um ornitorrinco. Já viu um? É um mamífero, acho. Um mamífero que tem bico! E uma das criaturas mais estranhas que já vi...

Começo a falar besteira. Acho melhor parar por aqui, se não você vai achar que eu sou maluco mesmo... Que eu fugi de uma clínica de recuperação, como o cara da novela das oito que começa mais de nove (não assisto, mas repercutiu muito). Ou sei lá! Definitivamente chega! Acho que já deu pra você sacar que eu não sou normal! 

Abraços,           

Fernando Lago – Aprox. Junho/julho de 2009

*Extraído e adaptado de uma série de correspondências com uma amiga.

3 comentários:

  1. É, eu te acho inteligente, louco e maravilhoso!
    E quer saber? isso é ser RARO meu amigo!


    Conta comigo! ;)

    beijocas

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  2. Os loucos que verdadeiramente se divertem. Ou fingem se divertir escrevendo.Ao menos eles escrevem. Li sobre uma louca que durante estadia num hospício escreveu poesias e alguém publicou. Em breve lhe mandarei notícias sobre ela.

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  3. Saudades dessas correspondências, poeta ;)

    Bjim *-*

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?