24 de mar. de 2011

Raposo e a uva



Um rapagão, daqueles quase grisalhos – aparentemente cheios de vida e de algum dinheiro que ninguém se importa de onde vem, desde que seja usado a seu favor – numa bela noite enluarada, quando caminhava nas ruas semi-pavimentadas para respirar o ar semi-puro da cidadezinha semi-industrializada, esbarrou-se com a criatura mais bela que já vira em toda a sua vida. Criatura esta provavelmente ainda não catalogada no livrão de biologia da biblioteca da universidade em que trabalhava como professor.

- Uma uva, Amadeu! Uma uva! - Dizia empolgado a um amigo – novinha! Uma jóia rara, Amadeu!

- Novinha, é? Ô, Raposo, você acha que ela vai te dar bola?  

- Claro, como não? Elas adoram um coroa!

Não perdeu tempo o matreiro Raposo. Rapidamente conseguiu, por misteriosas fontes, o endereço de mensagens instantâneas, e-mail e todas as redes sociais em que a garota estava cadastrada e fez contato, usando todo o seu charme de conquistador, que mulher nenhuma jamais resistira. Como era de se esperar, rapidamente foi ganhando terreno, despertando, inclusive, razoável admiração na menina.

- A uvinha ta na minha, Amadeu! Ela ta na minha!

Um belo dia, quando tomava com ela um suco no quiosque do calçadão da praia, resolveu falar, sem dar margem a exacerbações sentimentais, de sua atração, que foi recebida pela moça com aparente surpresa. Surpresa esta que em muito surpreendeu o nosso insurpreendível Raposo. Mas como assim ela não sabia?

Ela explicou. Tinha por ele uma grande admiração e uma amizade valiosíssima. Mas não passava disso. Aliás, se quer saber, já tinha até namorado. Morava na Barra. E era um rapaz muito bonito e, enfim, da idade dela. Leva a mal não...

- Deixa pra lá! – Disse Raposo consigo, indiferente – Ela é criança demais! E eu gosto de mulheres maduras.

Alguns meses depois, Raposo estava lendo seus e-mails quando recebeu um alerta na rede social avisando que a sua uvinha tinha mudado o status para solteiro. Sem pensar no que fazia, meteu-se no seu carro e correu para o quiosque da barra, onde a moça costumava ficar àquela hora. Não a encontrou, porém. Ela tinha se mudado pros Estados Unidos da América.

MORAL: Quem desdenha quer comprar, mas tem que saber pechinchar.


Março de 2011

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Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?