19 de set. de 2011

Um clássico (quase) infantil

Imagem: Michigan J. Frog (Warnner Bross)



Era uma vez uma princesa muito bonita que vivia, como toda princesa que se preze, à procura de um príncipe que lhe curasse um daqueles males de princesa que só um príncipe pode curar: a solteirice.

Caminhava pelo belo bosque, que depois de muitos anos de luta o Greenpeace conseguira que transformassem numa Área de Proteção Permanente, conforme as determinações do IBAMA. Ao passar pela beira do Lago, ouviu uma voz que lhe invocava pelo título de nobreza:

- Princesa! Venha cá, princesa...

- Mas será que estou ficando louca? – disse a moça com seus botões, sem se dar conta de que falar sozinha também era uma coisa de louco – estou ouvindo o Lago falar comigo?

- Não está louca não, princesa – redarguiu a voz – não é o Lago que lhe fala, mas eu...

A princesa forçou os olhos em direção à beirada do Lago, de onde vinha a voz, mas não viu ninguém.

- Mas não consigo te enxergar...

- Chegue mais perto...

A princesa, num ímpeto de coragem, aproximou-se da margem do Lago e pôde enxergar o dono da voz. Um pequeno sapo, em cima de uma Vitória Régia, tomando banho de sol.

- Ah, então era você! Pensei que estivesse louca. – disse, não notando também que falar com sapos não era assim uma coisa de gente normal.

- E o que você quer de mim, asqueroso anfíbio?

- Calma lá, princesa, não precisa ofender. Só quero conversar...

- Me leva a mal não, senhor, mas não costumo conversar com sapos não... Até lago, digo, até logo.

Já ia saindo, quando ouviu a anfibiosa voz do sapo dizer sedutoramente:

- Bem sei que você anda pretendendo um pretendente que lhe pretenda, não é?

- Como? – disse a noiva, voltando imediatamente – Por que está dizendo isso?

- Porque talvez eu possa ajudar...

- Então você é alguma espécie de cupido! Adoraria contar com sua ajuda. Eu te recompensaria muito, te cobriria de ouro. E nem e preciso de muito ouro pra isso, já que você é bem pequenininho assim, ó... E é até perigoso, ouro é pesado... Mas, enfim, eu acharia um jeito de te recompensar. Mas tem que ser príncipe. Pelo menos ter sangue nobre... Ou algumas ações na Vale do Rio Doce ou na Petrobrás... Mas onde está sua flecha? Ai que emoção, um Cupido!

- Bora parar com a palhaçada? Que mané cupido o que! Eu tenho lá cara de cupido? Isso aqui é uma fábula, não é mitologia grega!

- É verdade, devo ser mais realista. Você é então uma espécie de conselheiro amoroso...

- Não.

- Um astrólogo, cartomante, pai de santo...

- Deixa de ser besta, mulher, não sou nada disso.

- Então não vejo como poderia me ajudar...

- Você não está vendo que eu sou um sapo?

- E daí?

- E você é uma princesa...

- Continuo no e daí...

- Mas será possível? Você não conhece nada de histórias infantis?

- Ah não, não, não! Já sei aonde você quer chegar!

- Mas não custa nada tentar...

A princesa começou a refletir e lembrar das histórias que a sua avó contava. A família da rainha tal que tinha beijado um sapo que virara o príncipe de tal no ano tal do século tal... Sua mãe disse uma vez que tudo o que as gerações mais velhas falavam devia ser valorizado. É bem verdade que ela própria também tinha dito em outra ocasião que a velha não andava muito bem das ideias, mas plagiando em pensamento o simpático sapo que estava ali diante dela, achou que não custava nada tentar. Com essa raridade de príncipes na freguesia não podia perder essa oportunidade, ainda que remota. Além do mais, caso o sapo estivesse mentindo, só perdia alguns minutinhos da sua preciosa vida. Depois era só escovar os dentes muito bem escovados com Colgate, enxaguante bucal et Cetera et Cetera e tudo estaria resolvido, nos trinque, nos conforme. Lavou, tá novo! (Ai, essas modernosas!)

- Admito que ouvi falar algo assim, por altos e baixos, nos corredores daquele palácio... mas será mesmo que...?

- Palavra de escoteiro – disse o sapo que apesar da pele verde nunca fora escoteiro na vida

- Então prepare-se...

Dito isto, a princesa agachou-se, preparando o biquinho real, mas não alcançou o sapo e agachou mais e mais e mais... Antes mesmo de conseguir oscular o bichinho percebeu um vozerio e um barulho de flashes vindo detrás de si... Eram vários paparazzi de tabloides do Reino, captando-a em sua real descompostura.

MORAL: I'm your biggest fan, I'll follow you until you love me Papa-Paparazzi

Fernando Lago – Setembro de 2011

3 comentários:

Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?