5 de fev. de 2012

A sonolenta airosa



Era uma princesa, dessas que há por aí aos montes, de um reino distante como todos são, e que, como toda princesa dessas que há por aí aos montes e que vivem em reinos distantes como todos são, era linda e tinha muitos seguidores nas redes sociais. Como não é de se surpreender, toda essa lindeza e popularidade causa inveja, e foi por essa inveja que uma bruxa, depois de tantos malwares e trojans enviados para o sistema da menina, resolveu apelar e encheu uma seringa com uma substância que ela mandou vir da Colômbia, espetando o dedo da princesinha na festa de lançamento do seu novo blog de moda, para qual, obviamente, a outra não tinha sido convidada.

Como a droga da Colômbia era do Paraguai[1], ao invés de emborcar mortinha da silva ali na mesma hora, a menina apenas caiu num letargo profundo e a bruxa foi presa no ato. Como a essa altura do campeonato ninguém tinha tempo de consultar dicionários para saber o que era letargo, anunciaram no mural do facebook que a princesinha estava tirando uma soneca induzida, por uma droga ainda desconhecida, de procedência colombiana, mas que era o maior barato. Logo a apelidaram de Bela Adormecida, apelido óbvio, uma vez que a menina era realmente bonita e, ao contrário de todos os que curtiam e compartilhavam os anúncios da sua moléstia na madrugada, dormia.

Um sábio, desses que sabem pouco de tudo e tudo de nada, disse que a princesa só acordaria com um beijo do amor verdadeiro. Logo iniciou-se uma campanha não muito higiênica para achar o amor verdadeiro da moça, incluindo umas bitoquinhas de príncipes de todas as regiões.

A Polícia Federal do reino[2] teve acesso ao histórico de conversas instantâneas da moça e descobriu um sujeito de um reino não muito distante do reino distante[3] que estava trocando mensagens com a moça na última noite antes do baile. Trataram logo de chama-lo, sem saber que ele já estava a caminho no seu cavalo branco, passando, naquele exato momento, pela alfândega que o impediu de entrar no país por causa de umas graminhas de uma planta alucinógena que ele trazia[4].

Mas tudo se resolve, em nome da diplomacia. Por ordem direta do rei, o rapaz foi liberado[5] e voltou à cavalgada, chegando suado e estupefacto[6] na alcova da moça, com direito diplomático de cortar a fila de supostos amores verdadeiros que passavam por uma vistoria minuciosa[7] da rainha. Como o tempo urgia, o jovem príncipe do reino distante foi logo caindo de boca na gatinha que, pra comoção geral dos circunstantes, não acordou.  

Enquanto isso, a bruxa malvada que era filha de um senador influente do nordeste do reino, conseguira um habeas corpus e comprava duas passagens pra ir à Disneylândia com um pobre e simples professor de informática da corte, que era, na verdade o grande amor verdadeiro da princesa.

MORAL: amor não-correspondido é uó.


[1] E isso se chama globalização
[2] Você não leu errado.
[3] Por ser também distante
[4] Mas jurou que não era dele!
[5] O que são as imunidades diplomáticas!
[6] Ipso facto
[7] Muito minuciosa

2 comentários:

Pode se jogar, mas não esqueça a sua bóia, viu?