11 de out. de 2008

Texto Acadêmico (Pra não acharem que só escrevo abobrinha)

Resumo do Livro “A Educação Para Além do Capital”
Por Fernando Lago Santos[1]

Istvan Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex, traz-nos neste “pequeno grande livro”, como bem o definem alguns críticos, uma importante abordagem sobre a nossa educação atual, que está voltada especificamente para os interesses do capital. Inicia nos apresentando três epígrafes, que enfatizam a importância do aprendizado na vida do indivíduo, além de mostrar que a própria vida é o aprendizado, não apenas a escola. As epígrafes nos dizem também que o aprendizado acontece durante toda a vida e “não pára senão com a morte”. O ensaio é dividido em quatro partes, sendo a primeira uma apresentação sucinta da lógica do capital, por meio de citações a Owen e a Smith, que propunham reformar a educação pela própria educação, o que Mészáros vai chamar de soluções formais. Na segunda parte Mészáros parte da frase de José Martí para explicar a necessidade de soluções para a educação que escapem às formalidades do Capital, como já adiantado na análise das propostas de Owen e Smith. Na terceira parte o autor aborda o caráter multifacetário da educação e a necessidade de se ver a educação para além dos muros da escola. Por fim, na quarta e última parte, ele aponta que as soluções para os problemas da educação devem vir juntamente com a transformação social, que muitas vezes é esquecida pelos profissionais, ao buscarem mudar o mundo por meio da educação.
É preocupação intensa do autor deixar claro que não é possível uma educação diferente sem que haja uma quebra violenta da lógica do capital. A mudança na educação deve vir acompanhada com as mudanças estruturais necessárias no quadro social, pois “a educação e os processos de reprodução mais amplos estão intimamente ligados.” Não é possível, portanto, uma conciliação entre as necessidades reais da sociedade e da educação e os interesses do capital. A lógica do capital é incorrigível e, para haver uma mudança nas estruturas sociais é necessário quebrá-la. Justamente para esclarecer essa idéia é que Mészáros cita as reformas propostas pelo socialista utópico Robert Owen e por Adam Smith que, conquanto tivessem preocupações humanitárias e denunciassem a miséria e a exploração dos pobres pelos ricos, esperavam que a mudança viesse através da razão, do esclarecimento, chegando Owen a dizer que era próximo o dia em que o homem não mais exploraria o homem, pois seria esclarecido e teria a consciência de que isso causa sofrimento à humanidade. Quanto às falas de Smith, elas simplesmente abordam o assunto culpando o próprio trabalhador por sua condição. chegar.pondo uma r juntas, ntarrefa de transformaçancipaç Para Mészáros, no entanto, a mudança não pode vir por um simples esclarecimento. O autor reconhece que as intenções de Owen são nobres, no entanto aponta que são idéias são problemáticas porque têm “que se conformar com os limites debilitantes do capital.” Segundo ele, esse pensador utópico tenta algo impossível: “a reconciliação de uma concepção utópica liberal/reformista com as regras implacáveis da ordem estrutural incorrigível do capital”. A solução para a educação deve ser essencial e fugir à mera formalidade, principal interesse do capital, cuja concepção de educação está pura e unicamente voltada para a manutenção do sistema opressor. De nenhuma outra forma o capitalismo poderia permanecer; a alienação das massas é uma condição para a sua sobrevivência. Acerca disso Mészáros inicia a quarta parte do ensaio dizendo que o motivo pelo qual nosso mundo vive em uma alienação desumanizante é simplesmente pelo fato de o capital não poder sobreviver de outra forma. Daí o fato de o autor dizer que a lógica do capitalismo tem de ser quebrada e não reconciliada. O capitalismo nunca abrirá mão de seu poder e sempre há de aplicar-se na alienação por meio das ideologias, a fim de que a verdade não seja conhecida pelos oprimidos e os opressores continuem a oprimir. O que Mészáros propõe é uma educação que busque mudar não isoladamente a educação ou, melhor dizendo, não particularmente a escola, mas a sociedade em si, já que a educação é a própria vida. Isso só será possível se se romper totalmente com a lógica do capital. Sua proposta de educação, como não poderia deixar de ser, é a educação para a mudança, mudança estrutural da sociedade que deve se dar concomitantemente com a mudança educacional. Assim, conclui o ensaio dizendo que as mudanças da educação jamais acontecerão separadamente das mudanças sociais. A mesma tarefa de educar deve ser a de lutar pela emancipação social, não apenas dos alunos ou da renovação do processo educacional, mas de toda a sociedade. Diz Mészáros que a tarefa educacional e a tarefa de transformação emancipatória devem caminhar juntas, não sobrepondo uma à outra.
Minhas Impressões Acerca do Ensaio
Mészáros, neste trabalho, deixa-nos bem clara sua opinião acerca do sistema educacional vigente em nossa sociedade. Não mede palavras ao abordar o que tantos outros marxistas têm, também, afirmado sobre este assunto: que os nossos métodos educacionais são condicionados por idéias capitalistas. O livro nos leva a uma profunda reflexão sobre o nosso fazer pedagógico – que não é exclusividade do professor do ensino formal, como ele esclarece ao citar Paracelso, que diz que “a aprendizagem é a nossa vida, desde a juventude até à velhice, de fato quase até à morte; ninguém vive durante dez horas sem aprender".
Ora, nós como futuros pedagogos temos que tomar consciência disso. Que somos nós? Meros reprodutores de uma educação maquilada pelas ideologias capitalistas? Bonecos manuseados pela máquina do capital com a pura e única missão de transmitir aos alunos os saberes necessários à inserção no tão falado mercado de trabalho? Ou sujeitos de uma educação emancipatória que visa introduzir os educandos na sociedade com uma mente crítica e não moldada por ideologias capitalistas? O que o autor propõe é que se opere uma mudança nos processos educacionais não apenas visando a escola, mas a sociedade como um todo. O que temos feito é reclamar dos salários, reclamar das más condições, da violência ideológica contra o professor, tarefas típicas de sindicatos. A questão toda não é o reclamar como uma classe isolada, mas deve-se buscar a prática de um protesto voltado à conscientização de toda a sociedade, pois sociedade e educação devem atuar juntas no processo de emancipação humana. É difícil escapar à ideologia que invade a educação em espaços formais e não formais. É preciso, no entanto, que abramos nossos olhos, que ampliemos nossa visão e possamos enxergar com nitidez a educação para além do capital. Apliquemo-nos, portanto, nesta luta diária do professor, que deve ser também em sua essência um pesquisador social.

[1] Graduando do III semestre de Pedagogia na Uneb – Dedc X

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